No Brasil, a cada hora, ao menos cinco pessoas foram infectadas pelo vírus HIV em 2021. Os números alarmantes constam no relatório anual de 2022 do Unaids (Programa Conjunto das Nações Unidas sobre HIV/Aids).
Segundo estimativa da ONU, ao longo do ano passado o Brasil teve 50 mil novos casos, o que fez o país chegar à marca de 960 mil pessoas vivendo com HIV. No mundo, são 38 milhões de pessoas vivendo com o vírus. Em 2021, foram 650 mil mortos em decorrência da Aids no mundo, 13 mil deles no Brasil.
Qualquer pessoa pode pegar, mas o vírus impacta de maneira desproporcional certos grupos sociais, num cálculo atravessado por desigualdades e vulnerabilidades sociais. Conforme o Unaids, o HIV hoje afeta desproporcionalmente pessoas negras, homens que fazem sexo com homens, usuários de drogas e mulheres trans.
"Temos uma pandemia estável com um número de mortes anuais muito elevado porque existe uma desigualdade muito grande no país que faz com que o acesso ao tratamento e a medidas de prevenção e diagnóstico sejam desiguais", explica o médico infectologista Esper Kallás.
Entre 2010 e 2020, enquanto a proporção de casos de Aids entre pessoas brancas no Brasil caiu 9,8%, entre pessoas negras houve aumento de 12,9%, segundo dados do Ministério da Saúde. Entre as mortes por Aids, o período registra o mesmo movimento em direções opostas: queda de 10% entre pessoas brancas e crescimento de 10% entre pessoas negras.
"A desigualdade impacta diretamente na resposta ao HIV no mundo, afetando populações mais vulneráveis, que têm seu risco de infecção aumentado", explica Ariadne Ribeiro Ferreiro, oficial para comunidades, gênero e direitos humanos do UNAids no Brasil. "Uma mulher trans no Brasil, por exemplo, tem 40 vezes mais risco de ser infectada do que a população em geral", ilustra.
Segundo ela, essa vulnerabilidade não se explica apenas por fatores biológicos. "O preconceito cria barreiras que prejudicam o acesso às tecnologias biomédicas de prevenção, diagnóstico e tratamento capazes de interromper a cadeia de transmissão, ainda que todos estejam disponíveis por meio do Sistema Único de Saúde", afirma.
Acabar com a Aids até 2030 é um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável da ONU. Fatores como a pandemia de Covid-19 e a guerra na Ucrânia, no entanto, também afetaram essa meta. Segundo o relatório da ONU, essas emergências sufocaram as capacidades dos países de responder à Aids.
O relatório também mostra que os esforços para garantir o acesso ao tratamento antirretroviral, que salva vidas e interrompe o ciclo de transmissão, está falhando. A meta estabelecida no âmbito das Nações Unidas, chamada de 90-90-90, é de que 90% das pessoas infectadas sejam diagnosticadas. Destas, 90% estejam sob tratamento com terapia antirretroviral (ART), que reduz a carga do vírus HIV no organismo do indivíduo infectado. E dentre as pessoas em ART, 90% estejam com carga viral tão reduzida que, na prática, não transmitem mais o vírus. Em 2021, no mundo, esses números são 85-88-92. No Brasil, são 88-83-95.
No mundo, o número de pessoas em tratamento de HIV cresceu mais lentamente em 2021 do que nos 10 anos anteriores. Enquanto três quartos de todas as pessoas que vivem com HIV têm acesso ao tratamento antirretroviral, ainda há aproximadamente 10 milhões de pessoas sem acesso aos medicamentos.
Apenas metade (52%) das crianças que vivem com HIV em todo o mundo têm acesso a medicamentos que salvam vidas. A lacuna na cobertura do tratamento entre crianças e adultos está aumentando em vez de diminuir. Segundo o UNAids, acabar com a Aids custará menos dinheiro do que não acabar com ela. E os avanços podem preparar melhor o mundo para se proteger contra as ameaças de futuras pandemias.
Folhapress
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